sábado, 23 de abril de 2016

Alcoolismo-Parceiros no Vicio (Possessão Partilhada)


No livro A Obsessão e Suas Máscaras,a Dra Marlene Nobre nos relata casos de Possessão.Casos estes que estão nos livros de André Luis psicografados por Chico Xavier.

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Na série André Luiz, fica bem claro, porém, que na maioria dos casos de viciados, de qualquer natureza, a responsabilidade do espírito encarnado é muito grande; referindo-se, especificamente, ao conluio entre Cláudio Nogueira e os parceiros desencarnados, Félix teve oportunidade de dizer que, em nenhum momento, Cláudio fora constrangido a aceitar a companhia do outro. A escolha fora dele. A responsabilidade estava dividida em quotas iguais, porque era uma associação natural, uma parceria consentida.


CASO CLÁUDIO NOGUEIRA

Acompanhemos esse caso em Sexo e Destino: 
Félix e André Luiz alcançaram o espaçoso apartamento do Flamengo, no Rio de Janeiro, adentrando a residência de Cláudio Nogueira.

No limiar do recinto doméstico, os benfeitores espirituais surpreenderam dois homens desencarnados a debaterem casos de vampirismo.Nenhum dos dois registrara a presença dos Espíritos amigos. Prometiam arruaças. Semelhantes companhias indicavam a falta de defesa daquele lar, os riscos a que se expunham os moradores desse ninho de cimento armado, suspenso em enorme edifício.

Na sala principal, escarrapachado no sofá, Cláudio lia um jornal vespertino, com atenção. Em meio aos adornos delicados da peça, o contraste de uma garrafa de uísque, deitando emanações alcoólicas no ambiente, que se casavam com o hálito do dono da casa.
Cláudio Nogueira, homem maduro, na quadra dos quarenta e cinco janeiros, lutando contra os desgastes do tempo, tinha o rosto bem cuidado, os cabelos penteados com distinção, unhas polidas, e envergava pijama impecável. Naquele momento, acompanhava o jornal como quem estava à cata de notícias maliciosas, conservando entre os dedos ura cigarro fumegante. O cinzeiro próximo já estava repleto, indicando o abuso da nicotina.

Repentinamente, surgiram ambos os desencarnados infelizes que estavam na soleira da entrada, abordando Cláudio, sem cerimônia. Um deles tateou-lhe os ombros e gritou:

- Beber, meu caro, quero beber!

A voz escarnecedora agredia a sensibilidade auditiva de André Luiz e Félix. Cláudio, embora não pudesse detectar-lhe o chamado pelos sentidos físicos, trazia a acústica da mente sintonizada com o apelante, que repetiu a solicitação, algumas vezes, na

atitude do hipnotizador que insufla o próprio desejo, repetindo uma ordem.


O resultado não se fez esperar. O paciente desviou-se do artigo político no qual estava interessado e sem que pudesse explicar a si mesmo, passou a deslocar o pensamento noutra direção.

Beber, beber!... e a sede de álcool se lhe articulou na ideia, ganhando forma. A mucosa pituitária aguçou-se, como que impregnada do cheiro que vagueava no ar. O parceiro desencarnado coçou-lhe brandamente os gorgomilos. Cláudio sentiu-se apoquentado. Indefinível secura constrangia-lhe o laringe. Tinha necessidade de tranquilizar-se.

O amigo sagaz percebeu-lhe a adesão tácita e colou-se a ele. De começo, a carícia leve; depois o abraço envolvente; e finalmente o abraço de profundidade, a associação recíproca. Uma verdadeira enxertia fluídica.

Cláudio-homem absorvia o desencarnado, a guisa de sapato que se ajusta ao pé. Fundiram-se os dois, como se morassem eventualmente num só corpo. Altura idêntica. Volume igual. Movimentos sincrônicos. Identificação positiva.



Levantaram-se a um tempo e giraram integralmente incorporados um ao outro, na área estreita, arrebatando o delgado frasco.

André Luiz não saberia especificar a quem atribuir o impulso inicial de semelhante gesto, se a Cláudio que admitia a instigação ou se ao obsessor que a propunha.

A talagada rolou através da garganta, que se exprimia por dualidade singular. Ambos os drogaditos estalaram a língua de prazer, em ação simultânea.

Desmanchou-se a parelha e Cláudio, desembaraçado, se dispunha a sentar, quando o outro colega, que se mantinha a distância, investiu sobre ele e protestou: eu também, eu também quero!

Absolutamente passivo diante do apelo que o assaltava, reconstituiu, mecanicamente, a impressão de insaciedade.
Bastou isso, e o vampiro, sorridente, apossou-se dele, repetindo-se o fenômeno da conjugação completa.

Encarnado e desencarnado a se justaporem. Duas peças conscientes, reunidas em sistema irrepreensível de compensação mútua.

André Luiz acompanhou a posição mental de Cláudio e pode constatar que ele continuava livre no íntimo. Não experimentava qualquer tortura, a fim de render-se. Hospedava o outro, aceitando-lhe a direção, entregando-se por deliberação própria. Não era caso de simbiose em que se destacasse por vítima. Era uma associação natural.

Félix explicou que não se tratava de temíveis obsessores como poderia parecer. E ponderou:

- Cláudio desfruta de excelente saúde física. Cérebro claro, raciocínio seguro. E inteligente, maduro, experimentado. Não carrega inibições corpóreas que o recomendem a cuidados especiais. Sabe o que quer. Possui materialmente o que deseja. Permanece no tipo de vida que procura. E natural que esteja respirando a influência de companhias que julgue aceitáveis. Retém liberdade ampla e valiosos recursos de instrução e discernimento para juntar-se aos missionários do bem que operam entre os homens, assegurando edificação e felicidade a si mesmo. Se elege para comensais da própria casa os companheiros que acabamos de ver, é assunto dele.

Félix descartou qualquer possibilidade de expulsar as companhias de Cláudio, principalmente porque o dono da casa os tinha à conta de sócios estimáveis, amigos caros. Há também que se considerar se os vínculos seriam de agora ou de existência passada.

A violência para separar os parceiros seria totalmente desaconselhada, em qualquer caso, sobretudo neste de parceria consentida.

A responsabilidade tem o tamanho do conhecimento,lembrou Félix.

Não podemos impedir que um amigo contraia dívidas ou despenque em desatinos deploráveis, conquanto nos seja lícito dar-lhe o auxílio possível neste sentido, foi a explicação de Félix.

A justiça humana apenas cerceia as manifestações de alguém, quando esse alguém compromete o equilíbrio e a segurança dos outros, deixando a cada um o direito de agir como melhor lhe pareça. Como a Espiritualidade poderia agir de outra forma, desrespeitando o livre-arbítrio, ou seja, a liberdade de escolha das companhias que desejamos usufruir?

Muitas vezes, os benfeitores espirituais providenciam doenças ou impedimentos temporários para chamar a atenção do encarnado, quanto ao caminho enganoso escolhido. Mas essas são providências restritas, surgem como advertências dos que nos amam, quando mereçam esse amparo de exceção.

Mais tarde, Cláudio, enrodilhado a um dos seus parceiros, Moreira - vai tentar vencer as defesas morais da jovem Marta, a filha que ele julgava ser adotiva.

André Luiz descreve assim essa parceria:

O verbo enrodilhar-se, na linguagem humana, figura-se o mais adequado a definição daquela ocorrência de possessão partilhada, que se nos apresentava ao exame, conquanto não exprima, com exatidão, todo o processo de enrolamento fluídico, em que se imantavam. E afirmamos ”possessão partilhada”, porque, efetivamente, ali, um aspirava ardentemente aos objetivos desonestos do outro, completando-se, euforicamente, na divisão da responsabilidade em quotas iguais.

Qual acontecera, no instante em que bebiam juntos, forneciam a impressão de dois seres num corpo só.

Ao entrarem no quarto de Marta, Cláudio e o parceiro estavam singularmente brutalizados pelo desejo infeliz,

constituíam juntos uma fera astuciosa.

André Luiz descreve esse instante: A incorporação medianimica, espontânea e consciente, positivava-se em plenitude selvagem. O fenômeno da comunhão entre duas inteligências - uma delas, encarnada, e a outra, desencarnada
- levantava-se, franco; ainda assim, desdobrava-se tão agreste quanto o furacão ou a maré, que se expressam por forças ainda desgovernadas da Natureza terrestre...

Conforme explica o benfeitor, toda a cena passava-se no plano mental, no silêncio, sem que a pobre jovem percebesse.

Não vou entrar em maiores detalhes deste livro extraordinário. Sexo e Destino merece ser levado ao cinema e adaptado para uma série de televisão: é uma contribuição notável dos Espíritos Superiores para a valorização do emprego das energias sexuais e um cântico à vitória do amor universal."

                               Do livro :A Obsessão e Suas Máscaras - Marlene Nobre