O Espírito, expressão da Chama Divina, em sua jornada
evolutiva, manifesta-se de diferentes formas visando aprender e
ascender espiritualmente. Seu corpo espiritual, ou perispírito, veículo
de manifestação na dimensão de origem, permite-lhe relacionar-se de
diferentes formas dada sua plasticidade e suscetibilidade ao
pensamento. Quando envolvido pelo corpo físico, o Espírito experimenta
limitações em função da rigidez cromossômica que lhe caracteriza a
formação. Em face disso, a vivência de sua sexualidade encontra
obstáculos para que se manifeste plenamente. A sexualidade humana é a
dimensão que capacitou o espírito a constituir sua afetividade. Sem
ela, não conseguiria o Espírito experimentar as demonstrações de
carinho e amor de que tem sido capaz nas suas suas relações com o outro:
A homossexualidade, forma diferenciada de viver a dimensão afetiva,
estudada por muitos cientistas com distintas opiniões, teve sua saída
do rol dos transtornos mentais desde o século passado, pondo fim às
oficiais rejeições homofóbicas preconceituosas. O Espírito é livre
para manifestar sua dimensão afetiva, sexual e amorosa como lhe apraz,
sendo uma questão de foro íntimo como a vive, respeitando o direito do
outro com quem pretenda estabelecer relações. Evocar causas genéticas,
sociais ou cármicas é, de fato, ainda não entender a natureza íntima do
Espírito.
Rotular a homossexualidade como anormal ou considerá-la
uma perversão ainda é parte do preconceito movido pela ignorância e
pela não aceitação da própria bissexualidade psíquica, inerente a todo
ser humano. A Doutrina Espírita, em seus princípios fundamentais,
declara a neutralidade do Espírito quando afirma que os mesmos
espíritos habitam corpos masculinos e femininos. O corpo físico, com
sua anatomia e seu funcionamento, é incompetente e ineficiente para
manifestar a diversidade sexual que pulsa na intimidade da alma,
tampouco é capaz de conter a ânsia que domina o Espírito em ser ele
mesmo. A evolução deverá permitir, pelas diferentes formas de relações
humanas que estão surgindo, que haja livre manifestação da sexualidade
humana sem que se precise criar casuísmos nem eliciar preconceitos
retrógrados. O amor deve ser o elemento principal de nossa percepção a
respeito do comportamento de alguém.
Adenáuer Novaes
Psicólogo Clínico
Q.367 - Unindo-se ao corpo, o Espírito se identifica com a matéria?
“A matéria é apenas o envoltório do Espírito, como o vestuário o é do
corpo. Unindo-se a este, o Espírito conserva os atributos da natureza
espiritual.”
Q.200 - Tem sexo os Espíritos?
“Não como o
entendeis, pois que os sexos dependem da organização. Há entre eles
amor e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos.”
Q.201 - Em nova existência, pode o Espírito que animou o corpo de um homem animar o de uma mulher e vice-versa?
“Decerto; são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as mulheres.”
Q.202 – Quando errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um homem, ou no de uma mulher?
“Isso pouco lhe importa. O que o guia na escolha são as provas por que haja de passar.”
O Livro dos Espíritos (79ª edição -Feb)
Allan Kardec
HOMOSEXUALIDADE SOB A ÓTICA DO ESPÍRITO IMORTAL
1. Qual a visão espírita sobre a homossexualidade? É ou não uma doença à luz do Espírito imortal?
A homossexualidade, segundo a ciência, é uma orientação afetivo-sexual normal.
Não há uma visão que seja consenso sobre o assunto no
movimento espírita, mas há excelentes textos dos espíritos André Luiz e
Emmanuel nos direcionando o pensamento e a reflexão para o respeito,
acolhimento e a inclusão da pessoa homossexual, entendendo a
homossexualidade como uma condição evolutiva natural (e o termo
“natural” como sinônimo de “presente na natureza”) decorrente de
múltiplos fatores, sempre individuais para cada espírito. Essa condição,
quando exclusiva ou predominante na vida do espírito, é construída ou
escolhida em função de tarefas específicas ou provas redentoras,
incluindo aí as condições expiatórias e reeducativas devidas a abusos
afetivo-sexuais no passado, que parecem ser a causa determinante da
maior parte das condições homossexuais, segundo a literatura espírita.
Emmanuel esclarece, em Vida e Sexo (psicografia de Chico Xavier), que o
espírito é portador da bissexualidade psíquica, em função de ser
assexuado em sua natureza e vivenciar as duas polaridades, de forma
alternada, ao longo das múltiplas vivências encarnatórias. A atração
sexual e afetiva da experiência presente é o resultado de uma
interação de fatores biológicos e psicológicos que varia enormemente
de indivíduo para indivíduo, tanto na encarnação quanto nas suas
fases.
Desta forma, encontraremos indivíduos vivenciando experiência
homossexual, sem ser essa a identidade predominante, caracterizando
uma série de vivências que necessidade também de individualização para serem
compreendidas à luz da reencarnação, sem que haja uma receita de bolo
para essas múltiplas circunstâncias desafiadoras dos valores sociais,
religiosos e até mesmo científicos. Explico isso com detalhes na obra
Homossexualidade sob a ótica do espírito imortal.
2. Qual a diferença entre orientação e escolha sexual?
A orientação sexual é definida pelo sexo pelo qual o ser se atrai. Pode
ser heterossexual (sexos diferentes), homossexual (mesmo sexo) ou
bissexual (os dois sexos). Há aqueles que defendem ainda que o ser pode
ser assexual, ou seja, não se atrair por nenhum dos sexos. Escolha
sexual é o que o indivíduo faz a partir do seu desejo, como se comporta
na parceria afetiva-sexual. A homossexualidade, na maioria dos casos, é
uma orientação e não escolha.
3. Em todos os casos, o espírito já renasce homossexual? É possível reverter essa orientação?
Nem sempre. A orientação homossexual pode surgir ao longo da vida,
devido a múltiplos fatores biológicos, emocionais e espirituais, como
acontece com os diferentes tipos de desejo heterossexual.
Não se
conhecem métodos psicoterapêuticos eficazes para a para a reversão do
desejo sexual e nem há necessidade disso, já que a homossexualidade é
uma variante normal do desejo sexual humano, segundo a psicologia. Só há
necessidade de atenção e cuidado psicológico quando o indivíduo não se
aceita como é (condição egodistônica) e precisa de auxílio para a
autoaceitação e auto-amor ou quando o desejo for sintoma, como no caso
de abusos sexuais na infância.
4. Existem casos de
homossexualidade desenvolvida exclusivamente pela educação na
infância? Em caso afirmativo, é possí-vel reverter o processo?
Sim, a orientação sexual sofre influência decisiva do processo
educacional, como Freud e outros estudiosos descreveram. O desejo
sexual é originado, segundo a psicologia, dos movimentos reacionais
inconscientes aos processos de amadurecimento psicossexual. Nesta
perspectiva, toda orientação, seja hetero ou homossexual, é uma escolha
inconsciente.
5. Como devem se comportar os pais de um indivíduo que se descubra homossexual?
O acolhimento amoroso da família é fundamental para que o indivíduo
homossexual possa se aceitar, se compreender, entendendo o papel dessa
condição em sua vida atual, e para que se sinta digno e responsável
perante suas escolhas.
A família é o núcleo em que se encontram
corações compromissados em projetos reencarnatórios comuns, com
vínculos pessoais de cada um com o passado daqueles que com eles
convivem, devendo ser cada membro dessa célula da sociedade um esteio
para que o melhor do outro venha à tona, por meio da experiência
amorosa.
Os pais de homossexuais poderão ler e compartilhar
interessantes experiências de outros pais no site e nos livros de Edith
Modesto: http://www.gph.org.br.
6. O homossexual não consegue de forma alguma ter atração por pessoa do sexo oposto ou isso pode acontecer de forma natural?
O homossexual exclusivo só se atrai por alguém do mesmo sexo, já o
bissexual se atrai pelos dois sexos. A bissexualidade se apresenta com
porcentagens diferenciadas de desejo, assim uma pessoa bissexual pode
ser homossexual predominante, ter vida e comportamento homossexual e
mesmo assim ter atração minoritária por alguém do sexo oposto. E
vice-versa.
7. O homem homossexual se sente uma mulher? A mulher homossexual se sente um homem?
Não, o homossexual tem a identidade do próprio sexo, o que significa
que se olha no espelho e se sente do seu sexo biológico, não se sente do
sexo oposto nem deseja sê-lo. Isso não impede que as identificações
sejam com o mesmo sexo ou com o sexo oposto, fazendo com que o
indivíduo seja mais ou menos masculinizado ou feminilizado.
8. Considerando a imortalidade da alma, como entender os relacionamentos homossexuais?
Como caminhos de crescimento espiritual, como qualquer relacionamento,
desde que pautados no respeito, na afetividade e na amorosidade. A
postura na vivência da sexualidade, para homossexuais, deve ser a mesma
aconselhada pelos espíritos a heterossexuais: dignidade, respeito a si
mesmo e ao outro, valorização da família, da parceria afetiva profunda
no casamento e dedicação da energia sexual criativa em benefício da
comunidade em que está inserido.
9. Muitos consideram que a abstinência é uma recomendação educativa no caso de homossexualidade. Qual seu parecer?
Muitos poucos espíritos estão prontos para a abstinência sexual, que
só é útil quando a serviço do benefício coletivo ou como medida
disciplinar em casos de compulsão sexual.
O homossexual tem direito
a uma vida afetiva e sexual plena, competindo a cada um o
reconhecimento do que lhe convém ou não, em termos de prática e conduta.
Todos devem evitar os abusos, a promiscuidade, o comércio do corpo e a
banalização da energia sexual, que é força sagrada destinada a
alimentar o corpo e a alma de afetos e nutrição espiritual.
10. Por que e para que buscar o tratamento do vício em pornografia?
-Porque o vício da pornografia cultiva uma imagem deturpada do homem e
da mulher, fazendo-os objetos de desejo, alimentando a violência
interpessoal, abrindo as portas para a obsessão espiritual e trazendo à
tona conflitos e núcleos afetivos adoecidos complexos do passado
espiritual, que colocam o ser em perturbação, fazendo-o desvalorizar os
afetos e as relações atuais, as lutas reeducativas e o aprendizado da
grandiosidade da energia e prática sexual à luz do amor e da
imortalidade da alma.
11. Fale sobre o HIV/aids numa visão médico-espírita.
Trata-se, em breves linhas, de uma condição de infecção ou doença, que
convida o ser à reeducação afetiva-sexual e ao cultivo da
espiritualidade, atitudes que fortalecem o organismo e a imunidade
física e espiritual. Há um capítulo sobre o tema na nossa obra.
Andrei Moreira
Médico
Jornal de Estudos Psicológicos - Ano V l N° 23 l Julho e Agosto 2012